sexta-feira, 13 de abril de 2012

Guia de sobrevivência nas trilhas

Guia de sobrevivência nas trilhas

Planejar com atenção aos detalhes, como a quantidade de água e comida necessárias, fazem a diferença na pedalada

Texto de Marcos Adami – Bikemagazine
Publicado com a autorização da revista Bike Action
Curtir uma trilha é tudo de bom, melhor ainda se for num lugar de paisagem maravilhosa e bem longe das cidades. Mas, para voltar com uma boa lembrança de um pedal perfeito, é importante tomar alguns cuidados para fugir das experiências negativas no meio do mato. Um planejamento bem feito, com atenção nos detalhes, vai garantir momentos prazerosos e boas recordações.

Evite pedalar sozinho em lugares remotos

Planejamento
Fazer todo um trabalho de “inteligência” e levantamento de informações é fundamental para êxito de uma pedalada. Para começar, recolha todo tipo de informação sobre o percurso que planeja fazer, de preferência com alguém que já percorreu aquele trecho. Outras fontes de informação são guias, mapas e, claro, a internet. Há sites especializados em trilhas e roteiros para ciclistas, alguns, inclusive permitem baixar os tracks diretamente para seu GPS.
Informe-se principalmente sobre o relevo e as condições das trilhas, pois quilometragens enganam muito. Pedalar 40km no plano é uma coisa, mas percorrer os mesmos 40km numa trilha técnica, com single tracks pedregosos, longas subidas de serra, travessia de rios, lamaçais ou areais é completamente diferente.
Verifique também as condições meteorológicas prevista para o dia da pedalada. Atualmente os serviços são bem precisos e além da chuva, preste atenção à velocidade do vento e na incidência dos raios UV.
Além do relevo e das condições do percurso, é importante conhecer pontos de apoio como restaurantes e bares, além dos pontos de interesse turístico para conhecer.
Aventureiro sim, negligente nunca

É de vital importância, sobretudo nas trilhas mais longas, estimar da maneira mais precisa possível o tempo total da pedalada. Tenha em mente que o relevo, o clima e as condições da trilha serão os principais fatores que vão influenciar na duração da jornada. Se a pedalada for em grupo, tome por base a forma física do menos apto e mais iniciante e nunca do mais experiente. O trecho que um ciclista experiente percorre em duas horas, um iniciante, acima do peso e fora de forma, pode levar o triplo do tempo.
Com base nessas informações, é possível prever o tempo total da jornada e assim planejar o que levar, a quantidade de comida e água necessários, que roupa usar etc.
Na hora de fazer a previsão é bom levar em consideração alguns imprevistos, como quedas, problemas mecânicos, pneus furados, erro de caminho e também atrasos ocasionados pelas condições climáticas, como chuva ou calor em excesso. Quanto maior o grupo de ciclistas, mais sujeita a atrasos será a pedalada, já que há mais possibilidades de pneus furados e outros problemas mecânicos e também físicos, já que cada um tem seu ritmo próprio e preparação física distinta.
Leve comida mais que o suficiente para o trecho planejado. É melhor sobrar do que sofrer o “prego de fome”, expressão conhecida pelos ciclistas e que ocorre quando o organismo se vê esgotado de suas reservas energéticas.
Um item que jamais pode ser negligenciado é a água, vital para a integridade de quem pedala. Em um dia muito quente, um ciclista pode precisar ingerir até 10 litros ou mais de líquidos. Informe-se sobre os pontos de água no percurso e invista numa mochila de hidratação (há modelos que levam três litros ou mais). Em alguns lugares, como nas formações conhecidas como “chapadas”, pode não haver água potável na parte alta. O ideal é se informar nos vilarejos, nos sites de viagem ou, melhor ainda, com quem já percorreu aquele trecho.

Segurança
A primeira regra é não sair sozinho para a trilha. No caso de uma queda mais severa ou de um problema mecânico mais complexo, os companheiros serão fundamentais para te tirar da enrascada. Caso seja realmente necessário ir sozinho, deixe avisado seus familiares (ou amigo de confiança) onde você vai e a que horas pretende estar de volta. Se houver alguma mudança nos planos originais, ligue ou envie um SMS informando essas mudanças. Quem assistiu ao filme “127 Horas” sabe que, caso algo dê errado, é fundamental saber onde te procurar. Se não ainda viu esse filme, assista.
Obedecer aos próprios limites é outra dica que vai te poupar dores de cabeça. Pedalar é um aprendizado contínuo e vamos adquirindo experiência gradualmente. Pedale dentro de seus limites, técnicos e físicos. É um grave erro querer fazer as mesmas coisas que aquele amigo pedala há 20 anos e está sempre em forma.
Se for pedalar num local desconhecido a todos de seu grupo, o correto é ir com alguém do lugar, que conhece bem a região. Ninguém melhor que um guia local para apontar o melhor caminho e evitar cair em roubadas. Caso não conheça ninguém, procure fazer contato com a secretaria de turismo da cidade (todo município brasileiro tem um site com essa informação) ou pelas redes sociais.
O que levar
Nunca saia para pedalar sem levar o kit básico: câmara de ar reserva, bomba, espátulas, um canivete com as chaves Allen e fenda, além de água e comida suficiente. Lembre-se: sua bike tem dois pneus, portanto leve, no mínimo, duas câmaras de reserva. Mesmo no caso de bicicletas com pneus tubeless, é importante levar pelo menos uma câmara reserva. Em longas travessias, que durem o dia todo, é bom estar prevenido com até três câmaras, remendos e até mesmo um pneu reserva, útil no caso de algum corte.
Para quem vai pedalar em grupo, uma dica esperta: combine com seus amigos o que cada um vai levar e compartilhe as ferramentas caso seja necessário, assim evita-se carregar peso com itens repetidos.
Leve comida de sobra. Especialistas em nutrição aconselham a ingestão de uma porção de carboidratos a cada 30 ou 40 minutos, dependendo da intensidade do exercício. Fique atento aos sinais do corpo. Câimbras normalmente indicam fadiga, falta de comida ou água.
Não se esqueça de levar algum documento e também telefones de emergência anotados em algum lugar.


DICA DE CAMPEÃO
O catarinense Ricardo Pscheidt (foto acima), tricampeão brasileiro de cross country ensina: “Não tenho um cálculo específico para quanto de comida levar, vou pela experiência própria. Numa pedalada longa, eu levo gel de carboidrato, barra de cereal e barra de proteína, banana e também um sanduíche de peito de peru com queijo. Levo também duas caramanholas, uma com água e outra com maltodextrina, além de uma dose extra de maltodextrina, para repor no caminho. Se estiver muito calor, levo ainda cápsulas de sal que vou tomando ao longo da pedalada. Se houver alguma possibilidade de chover ou fazer frio, levo uma capa de chuva, corta vento e manguitos. Em muitas ocasiões essas peças de vestuário me salvaram. Levo também um documento (vale o RG ou a carteirinha da Federação) com meus telefones e algum dinheiro”, conta.
A seguir, elaboramos um pequeno guia com dicas do que levar na trilha, de acordo com a duração da pedalada, realizada em ritmo normal, sem forçar.
NIVEL 1 – Pedaladas com até 3 horas de duração
A maior parte das pedaladas se desenrolam nesse nível. Pode parecer simples, mas dependendo do terreno, da intensidade e do clima, três horas em cima de uma bike podem ser exaustivas se alguns cuidados não forem tomados. Além das ferramentas básicas, certifique-se de levar comida e água suficiente.
1 – Duas câmaras de reserva
2 – Bomba
3 – Espátulas
4 – Canivete multiferramenta (chaves Allen, fenda, Phillips)
5 – Dinheiro
6 – Telefone celular
7 – Documento
NÍVEL 2 – Pedaladas com duração entre 3 e 6 horas
Um planejamento prévio vai evitar aborrecimentos. Note que seis horas de pedaladas significam, na prática, meio dia de pedal e os mais experientes são capazes de percorrer 150km ou mais nesse período. É importante aproveitar bem o dia. Se a saída foi marcada para a parte da manhã, o ideal é começar logo cedo para evitar o calor.
Informe-se sobre as condições meteorológicas para decidir sobre a necessidade ou não de levar agasalhos extras, capas de chuva ou outro acessório. Informe-se também onde parar para comer e pegar água.
Além dos itens sugeridos para pedaladas do nível 1, sugerimos:
1 – Roupas extras (se necessário)
2 – GPS
3 – Protetor solar para reaplicação
4 – Óleo lubrificante
5 – Algumas ferramentas extras são desejáveis como: chave Torx, chave de raios, chave de corrente, elo Power Link
6 – Mais comida
7 – Mochila de hidratação
NÍVEL 3 – Pedaladas com duração acima de 6 horas
Nessa categoria se enquadram as travessias. São roteiros longos que podem começar ao nascer do sol e se estenderem parte da noite. Não são aconselhadas para iniciantes, pois demandam muito esforço físico e, principalmente mental. Pedalar o dia todo exige um bom planejamento para evitar as adversidades. Procure conhecer e se informar sobre possíveis pontos de apoio ao longo do percurso como cidades, pousadas, mecânicos e hospitais.
Considere a opção de incluir um carro de apoio para acompanhar o grupo. Ele será fundamental em casos de quedas em que o ciclista precisa ser removido para um hospital (fraturas, concussão cerebral, fratura de costelas com perfuração de pulmões por exemplo). O tempo urge nesses casos.
O carro de apoio deve ir necessária e obrigatoriamente atrás do último ciclista do grupo, sem jamais ultrapassá-lo.
Caso a travessia seja feita num grupo grande, é importante que o grupo se mantenha coeso.
Além das sugestões para o nível 1 e 2, considere levar também:
1 – Farol e luz traseira
2 – Pneu sobressalente
3 – Repositor de eletrólitos e sais
4 – Mais comida salgada (sanduíches, fatia de queijo ou salame, fruta, castanhas)
5 – Bolsa de selim expansível ou bolsa de guidão, ou mochila
6 – Kit de primeiros socorros
7 – Muita água e comida extra no carro de apoio

Fonte BIKEMAGAZINE

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